quarta-feira, 1 de julho de 2009

OS DEZ MANDAMENTOS DO PÓS-MODERNO RADICAL







1. – Não adorar a razão. Enquanto a modernidade elevou, com Descartes que se fez paladino do método, da certeza e das ideias claras, a razão instrumental ou empírica a uma posição de domínio absoluto. O pós-modernismo olha com desencanto para um semelhante e arrogante racionalismo e prefere o “pensamento débil” de Vattimo, pela sua timidez na hora de enfrentar todas as afirmações da verdade. De igual modo, segundo o “desconstrucionismo” de Jacques Derrida, toda a realidade é como um texto aberto a uma miríade de interpretações conflituosas. No lugar do pressuposto moderno, segundo o qual são possíveis respostas objectivamente correctas, encontramos o “cárcere da linguagem”, onde o relativismo substitui qualquer mundo racionalmente ordenado; o sentido, se, porventura ainda existir, é criado por nós e é sempre flutuante. Também a ciência abandonou a procura de certezas verificáveis e tornou-se anti-representativa, indeterminada e hesitante.

2. – Não acreditar na história. Com Hegel a história tinha adquirido a supremacia sobre a “natureza”, tornando-se a categoria chave para compreender a existência. Por consequência, enquanto a modernidade tinha promovido uma orgulhosa confiança no facto de o homem ter tomado em suas mãos a direcção da história e a ter modelado de acordo com as suas próprias e várias finalidades e visões. O pós-modernismo fala de um “fim da história”, pondo em discussão todas estas grandiosas esperanças e preferindo viver sem grandes finalidades, contentando-se com a utilidade, a comunicabilidade e o imediato onde não existe qualquer passado ou futuro real. Quanto à história, como noutros campos, os modelos de determinação cedem o lugar ao acaso e à indeterminação.

3. – Não ter esperanças no progresso. A modernidade, embora desconfiando perante as realidades absolutas e as autoridades, confiou nas utopias do progresso, denominadas por Francis Bacon o regnum hominis, com as suas evolutivas esperanças de superar os males e criar situações de felicidade. O pós-modernismo nasceu em parte dos desastres deste século; abandonando tais esperanças, vistas como arrogantes e perigosas, para cultivar só o parcial e o fragmentário.

4. – Não contar meta-histórias. De um modo semelhante, a modernidade vive de várias histórias míticas do heroísmo humano, como a do roubo do fogo sagrado aos Deuses por Ptolomeu; mas o pós-modernismo rejeita os “meta-relatos” como logocêntricos”, isto é, como enganos criados pela inevitável necessidade humana de encontrar um sentido central para a existência e de exprimi-lo de uma qualquer forma narrativa. A fé cristã, na medida em que parece um exemplo de uma “meta-história”, é criticada pelo pós-modernismo e é julgada “totalizante”, por pretender abranger tudo e para tudo propor um sentido.

5. – Não se concentrar sobre o “eu”. Enquanto a modernidade deu vida, desde o Renascimento do Iluminismo, a um novo humanismo, a uma exaltação do homem qual centro do universo, sublinhando a identidade psicológica ou o indivíduo contido no eu como a medida de todas as coisas, o pós-modernismo propõe a morte do homem” no sentido de um radical cepticismo sobre as aproximações subjectivas e sobre a importância dada à personalidade e à auto-consciência na cultura ocidental. A noção cartesiana de um sujeito racional soberano, assemelha-se a uma infantil ilusão de omnipotência.

6. – Não te atormentes a respeito dos valores. Enquanto a filosofia moderna pôs em primeiro lugar, como no caso de Kant, questões relativas à moralidade e à liberdade, e enquanto a modernidade viva, tinha a propensão para a austeridade e para o puritano no seu estilo de vida, o pós-moderno cultiva o espírito de Dionísio e de Narciso: um hedonismo espontâneo avança paralelamente com expressões estéticas de autonomia. Nesta época privatizada do imediato e das imagens. A responsabilidade moral é vista, como uma ilusão herdada de uma época diferente. Em última análise, a vida não tem valor, os absolutos morais são ilusões e a liberdade é só um jogo. Não permanece qualquer ponto estável de referência.

7. – Não confiar nas instituições. Enquanto o longo processo da modernidade assiste à evolução do Estado democrático moderno e a um crescente papel da política na sociedade, o pós-moderno desconfia de todas as instituições e vê nelas, formas manipuladoras de opressão nas mãos dos poderosos. As tradições são só ideologias e formas de controlo; as Igrejas são inevitavelmente co-envolvidas como parte do passado ingénuo e autoritário.

8. – Não perder tempo a pensar em Deus. Na perspectiva religiosa, a modernidade fez gradualmente do ateísmo uma filosofia plausível; pela primeira vez na história do mundo a rejeição da fé pelos intelectuais, torna-se uma posição difusa entre as classes cultas. O pós-modernismo, mais do que rejeitar o ateísmo, pressupõe-no, pondo de parte a sua militância sobre a “morte de Deus”, preferindo simplesmente, não se interessar mais pelo problema da transcendência. A imanência torna-se sinónimo de bom senso e a necessidade da procura religiosa desaparece. Se alguém quer fazê-lo, pode falar do divino, mas no sentido de sentimentos transitórios de êxtase; atenção, no entanto, à ilusória noção de “presença”: tudo é ausência.

9. – Não viver só para produzir. A modernidade sociológica implicou uma organização urbanizada da vida, imposta pela revolução industrial. Contra a prioridade dada aos sistemas de eficácia económica, à exploração mecânica da população e da terra e à lógica dominante do hemisfério esquerdo do cérebro. O pós-modernismo protesta em nome da causalidade, do jogo estético e de uma série de libertações associadas ao hemisfério direito do cérebro. O trabalho é substituído pelas compras e pelo fascínio da moda.

10. – Não procurar a uniformidade. Na perspectiva cultural, a modernidade foi uma niveladora implacável, que impôs o uniforme estilo de vida ocidental, acreditou nos traços universais ou típicos do comportamento humano e permaneceu cega perante as tradições locais ou únicas. O pós-moderno redescobriu a “diferença” qual “valor chave” e compraz-se na evidente anarquia da diversidade cultural.

P. Michael Paul Gallagher

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